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Eu fui uma adolescente irreverente, revoltada, rebelde. Levei muitas broncas, puxões de orelhas. Mas o que eu mais lembro era que na escola (pública), muitas vezes minhas atitudes eram mal interpretadas. - principalmente se compararmos com a educação moderna.
Talvez nem os professores soubessem lidar com os adolescentes, lá pelos anos 70. A educação no Brasil passava por modificações. Estávamos na ditadura militar e expressão corporal, de idéias, era coisa perigosa.
Eu e meus 7 irmãos, passavamos muitas dificuldades: faltava água e energia elétrica, comida, dinheiro, roupas, minha avó materna nos supria como podia, tinhamos casa própria, essa era a vantagem, mas eramos carentes. Levavamos a vida como podíamos.
Eu amava tomar chuva descalça, pular nas poças de água da chuva, ouvir e ver raios e trovões, arcoiris. Trazia todos os gatos das ruas para casa. Arreliavamos vizinhos, invadíamos casas, acordavamos de madrugada para patinhos e pintinhos na casa dos vizinhos. Tinha uma melhor amiga, cuja mãe era Russa e adorava piano! Aprendi notas musicais, cultura e a compartilhar segredos.
Não podíamos dizer aos nossos pais que namorávamos. Eles não aceitavam. Isso foi um divisor de águas entre ser completamente honesta com eles e não namorar e não ouvir o chamado da natureza e dizer muitos nãos, e, inclusive não aprender a beijar x fazer tudo isso! Optei por mentir com dignidade. Após um rapido namoro, alguns meses depois, o meu namorado faleceu.
Lembro-me quando disse sim para o meu primeiro namorado, ao chegar em casa faltava luz e eu e meus irmãos faziamos imagens nas paredes com a sombra das velas! Foi muito divertido. Eu tinha 14 anos. Ríamos até adormecer, exaustos de tanto brincar. Talvez as traquinagens fossem para não sentir as dificuldades e notícias ruins, para que nós não conseguissemos pensar na dura realidade! Pensar que perderia minha mãe, que não tinhamos nada! Somente nós mesmos!
Então quando minha mãe finalmente parou de ser internada (ela foi diagnosticada com lupos), ela pode tomar o controle de nossas vidas novamente. Depois meu pai adoeceu (esquizofrenia) e nos impedia de sermos socorridos, de irmos para escola, rir, assistir TV, etc. Iamos para escola escondidos, guardávamos os livros na casa de vizinhos e amigos para que ele não nos visse. Mesmo assim nunca fizemos coisas que nos envergonhassem ou a nossos pais. Logo arranjei um emprego e meus irmãos após concluirem o colégio, vieram pelo mesmo caminho.
Represa de Mairiporã - São Paulo - dez/1980 |
11 comentários:
Oi Elaine...nossa você lembrou de coisas muito boas dese fazr, ainda mais na época da ditadura...era assim msmo no colégio...tudo quase poibido...
Fazer figura aprovitando a sombra das velas na parede...fziamos isso também
Tivbe uma experiencia num colegio como amigo da escola q ue tbm me foi muito gratificante apesar de exaustivo, pois era a mesma coisa, não havia uma base familiar e tudo se tornava dificil, mas foi um grande aprendizado...uma vez quase levi uma pedrada na cabça...não ra fácil
Parabéns por sua participação...boa semana
Um abraço na alma
Beijo
Elaine, percebemos o quanto você sofreu, se consola, eu passei por coisas muito parecidas, mas, tudo na vida passa, graças a Deus. Hoje somos pessoas fortes e tudo ficou para trás. Estou te seguindo. Beijos.
Elaine,
Excelente a sua participação na coletiva.
Valeu a pena tê-la aderido, ainda que fora da data. Fiz uma observação no post de hoje, convocando as pessoas a lerem todas as contribuições, para que não se percam tão ricos depoimentos, como esse.
Gosto muito de ver histórias de superação.
Tenho uma cunhada professora de adolescentes, que nos conta muitas coisas interessantes. Ela é empolgada com a profissão e seus alunos são, em sua maioria, de favelas no Rio.
O fato de você ter vivido na pele a experiência de incompreensão, a torna muito mais tolerante e mostra que faz a diferença na vida deles.
Parabéns por isso!
Não estamos aqui nessa vida sem motivo.
Tenha uma ótima semana!
Eliane,
finalmente cheguei no fim da lista, Ufa!!
Antes de começar a falar sobre seu magnifico texto quero esclarecer um equivoco: No meu post a única foto que é minha, é a 1ªfoto. A outra senhora é a minha mãe :)
Quanto à sua participação, ainda bem que nos deu essa prespetiva de professora. Pois é o outro lado da adolescência. Não são só os pais que tem conflitos com os filhos. Os pobres professores também sofrem connosco :)
Inclusive, há também conflito de gerações nos locais de trabalho. Numa empresa por exemplo, há umas quantas fricções entre funcionarios mais velhos e outros mais novos, acabadinhos de sair da universidade.
Lamento a perda que vc sofreu de seu 1ºnamorado... Na adolescência tudo tem um impacto maior.
Assim como a doença dos pais. Deve ter sido muito duro mesmo.
Beijo na sua alma.
Rute
Oi meninas e meninos! Obrigada pelas mensagens. Adoro ir ao blog de vocês ler as postagens, trocar informações, vivências. Isso tudo é muito rico e restaurador. Nos faz perceber que não somos sofredores sozinhos e sim vivemos a vida superando os obstáculos e nos tornando alguém melhor.
Rute, desculpe a confusão, mas eu li tantas coisas ontem depois que sai do trabalho onde já tinha lido muito e me confundi. De qualquer forma, as mulheres de sua familia têm uma alma especial.
Elaine
Olá, Elaine, gostei muito de ler a tua história e ver que apesar das dificuldades da vida a sua alma mantém-se doce e compreensiva no papel de professora foi bom teres te colocado no lugar dos alunos. Parabéns, pelo texto e pelo teu percurso de vida!
Beijinhos
A coisa q mais desejo na vida é q meninos e meninas não passassem por dificuldades financeiras, q pudessem ir à escola com dignidade e tivessem sempre uma boa comida quando chegassem em casa. Porém, infelizmente vivemos em um mundo onde meninos e meninas tem pouco espaço. Mas não vou parar de desejar q cada pessoa possa levar uma vida digna. Muita paz!
Você teve uma adolescencia bastante responsável e talvez insegura, devido ao medo de perder seus pais e a doença que de certa forma não lhes deram liberdade para levar para casa as questões que hoje em dia os alunos dividem com os pais ou que deveria ser assim. Achei legal você ao dar aulas para adolescentes, olhar para os seus irmãos de maneira compreensiva - garanto que foi de grande valia para eles!! Beijus,
Ainda estou lendo as participações, que foram muitas !
Só posso parabenizá-la por enfrentar a dura vida com força, determinação e coragem !
Tudo passa, e revendo nosso passado compreendemos muita coisa que nos ajuda a viver o presente e projetar o futuro.
Beijo
Oi linda! Dizer que sinto pelos teus contratempos seria um absurdo pois sei que foram lições valiosas,de vida.A bem da verdade eu vejo que a adolescência foi, é e sempre será será esta fase turbulenta e incompreendida na qual as lágrimas estão sempre prontas para o desague,seja alegria ou tristeza...rs.Graças a Deus que você conseguiu ser compreensiva com os adolescentes que chegaram às suas mãos de educadora.Deus te abençoe.bjs
Olá Elaine,
Agora que minha internet já está instalada, estou visitando os blogues que fazem parte desta MARAVILHOSA coletiva.
Que período difícil você enfrentou, a ditadura foi um período muito amargo na nossa história.
Na minha adolescência cheguei a pegar o finalzinho do regime militar, da época do Figueiredo e logo veio a Democracia.
Mas hoje te confesso que o cidadão brasileiro não sabe qual o "verdadeiro sentido" de Democracia.
O que vemos é um festival de impunidades, aonde não são tomadas providências mais sérias, com alegações de que vivemos numa Democracia, os valores estão invertidos....mas, isto já é um outro assunto não....
Vivestes intensamente esta Fase que na minha opinião, é a mais importante de um Ser humano.
Através de todas as experiências e vivências que temos nela, moldamos nosso futuro.
Parabéns pelo seu trabalho com os adolescentes que foram seus alunos, pelo que dissestes fostes uma professora muito amiga e participativa na orientação de suas condutas e posturas.
Aproveito para agradecer sua presença em meu espaço.
Parabéns pela participação, adorei!!!
Um grande beijo em seu coração!
Lú
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